UM PAIZÃO

Em uma comovente entrevista, Jorginho, um educador social apaixonado, nos guia através de três décadas de dedicação à capoeira e à construção de cidadania, enquanto ele se torna uma figura paterna para muitos. Com sinceridade e emoção, ele compartilha sua jornada repleta de desafios, superações e poder contagiante da cultura.

Como começou sua relação com Igarapé?

Desde o meu nascimento aqui em Igarapé. Sou filho de Benedito José de Oliveira também conhecido como “Bebezinho Pipoqueiro” e Maria Helena Pereira. Nasci nas mãos da parteira Licinha, em um colchão de palha. Somos seis filhos da minha mãe e dois do meu pai.

Fale sobre o início de sua jornada na capoeira.

Com 13 anos, estava brincando na rua quando um professor de capoeira viu que eu levava jeito para a coisa. Assim, comecei a minha história. Com mais de quarenta anos de dedicação, o que começou como uma brincadeira inocente acabou se transformou em uma vida de dedicação e amor pela capoeira.

Quantas crianças você estima terem passado por suas aulas?

Acredito que tenha sido mais de três mil crianças ao longo dos anos. No momento, temos cerca de trezentas crianças participando. Além das escolas, também trabalho com o CRAS, Casa da Cultura e APAE. Ver a capoeira ajudar esse meninos e meninas me enche de orgulho.

Como lidar com a responsabilidade de ser visto como uma figura paterna?

Encaro essa responsabilidade com sinceridade e fé. Nunca busquei ser um modelo, mas todos os dias me esforço para fazer o meu melhor. Acredito que, mesmo sem querer, isso faz diferença na vida de quem precisa. Tem mãe que me procura e pede para eu dar um conselho… eu fico feliz mas com muito cuidado.

Quais foram seus desafios marcantes?

Enfrentei muitos desafios, como quando um determinado governo encerrou nosso projeto de capoeira em Igarapé. Para eles, não era importante. No entanto, eu persisti e encontrei soluções, pedia escola emprestada, fazia o projeto na casa de alguém. Eu falo que continuei até mesmo quando o preconceito se manifestou.

Pode compartilhar uma experiência de preconceito que afetou?

Eu sofria preconceito, até mesmo sem saber que era isso. Certa vez, ao organizar um evento de capoeira em uma escola, que é o que chamamos de batizado, uma entrega de faixa para a criança. A diretora pediu para que não houvesse a festa. Segundo ela, a pedido de mães que não gostavam daquilo. No entanto, ao longo do tempo, compreendi que a capoeira não era apenas uma arte, mas uma lição de tolerância e conhecimento.

Você percebe uma evolução cultural em Igarapé?

Sim, definitivamente. A cultura tem agradado bastante, atraindo até crianças de escolas particulares. A comunidade está se unindo, celebrando sua própria identidade e conquistando respeito.

O que a capoeira representa para você?

A capoeira é como uma mãe para mim. Ela abriu caminhos para minha família e para mim. Uma dádiva que Deus me concedeu, uma porta aberta para novas oportunidades, mesmo em meio a muitos desafios, que não param.

Qual é sua maior realização até agora?

Minha maior realização é ver crianças que chegavam no projeto sem ter comido nada naquele dia, se tornarem profissionais bem-sucedidos, citando a capoeira como uma boa influência. É um sentimento muito bom dentro de mim saber que participai de suas trajetórias de sucesso.

E qual é o seu maior sonho?

Meu maior sonho não é tão grande e eu acho que vou conseguir realizá-lo. Desejo construir uma chácara de capoeira, um espaço que lembre aos antigos quilombos. Um lugar de alegria, cultura e segurança, onde a comunidade pode se reunir e se sentir em casa.

Uma Mensagem para os Pais

Eu quero dizer aos pais: SEJAM PAIS! Sejam presentes na vida de seus filhos, sejam o amor e a proteção que eles precisam. Deixe de lado as distrações e se envolvam de verdade com seus filhos, são esses momentos os tesouros mais valiosos.